E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.
(João 6:35)




terça-feira, 14 de novembro de 2017

A beleza da simplicidade

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De repente me vi com desejos de simplicidade. Carente de tudo que me lembra tardes chuvosas, passeio de bicicleta por ruas de paralelepípedos, café em canecas de ágata descascadas pelo tempo e fé de cidade pequena proclamada pelos sinos da igreja. Neste momento não preciso de nada além das paredes caiadas da casa de minha avó, da lembrança de seu tanque de cimento próximo à roseira, dos trocados que ela guardava na lata de biscoitos, do ranger das tábuas no chão sob meus pés.
As memórias de família enriquecem nosso repertório de significados, valores, fé e tradições. E nos acolhem naqueles momentos de dúvida, falta de sentido diante das inconstâncias da vida e descrença no futuro. Quem tem histórias de afeto ao redor de uma mesa simples, alegrias miúdas contadas através de causos de família, fé aprendida e praticada na intimidade, e melodia de tempos felizes numa voz antiga não se entristece à toa.
A vida é cheia de fases. Há momentos de buscar a novidade, de evoluir e aprimorar, de buscar uma certa elegância e requinte. E há momentos de resgatar o que é simples, descobrindo, como disse Leonardo da Vinci, que “a simplicidade é o último grau de sofisticação”.
É preciso não perder o encanto das coisas simples. Conseguir entender de poesia ao observar o tracejado das veias nas mãos finas do pai, decifrar delicadezas na marcha de pés descalços do filho, sensibilizar-se com o cheiro de simplicidade que só um bom refogado de cebola e alho traz, não se distrair dos sons de uma casa cheia de histórias, e correr o risco de chorar um pouquinho ao se lembrar dos quintais e ruas da infância.
Nas minhas horas de solidão quero agradecer tudo o que tive e me trouxe até aqui. Tudo que me apazigua a alma e traz consciência de que minha história ainda é linda e coerente, pois dela fez parte meu avô molhando o pão no leite, minha avó cantando enquanto esfregava roupas no tanque, minha mãe rezando em nossa cama à noite, meu pai me ensinando ciências, minha tia mandando a gente raspar o prato sem dar um pio. Não quero lamentar o que eu poderia ter tido e não tive, pois embaixo dos telhados de minha existência conheci e vivi tudo o que amei e ainda me sustenta: vestígios de uma vida jardineira, semeadora de contradições e buscadora de simplicidade…
__ Fabíola Simões (Extraído do texto “Desejos de Simplicidade”)